Sunday, May 18, 2014

Anabela Pais: O QUE É A DEPRESSÃO?

Anabela Pais: O QUE É A DEPRESSÃO?: O que é a depressão? Como se explica a doença fora do campo da ciência? Porque esta não penetra mistérios insondáveis. Para além ...



Anabela, grande e bem conseguida descrição da depressão! Fico FELIZ por estares cada vez melhor!

Thursday, October 18, 2007

ALGUMAS REGRAS ELEMENTARES DA BOA ESCRITA EM PORTUGUÊS


" O Essencial da arte é exprimir (...) - Fernando Pessoa

LISTA DE PALAVRAS E PONTUAÇÕES PROIBIDAS QUANDO SE COMEÇA A ESCREVER EM PORTUGUÊS

(Todo o inventário que segue é usado sem peias pelos grandes autores universais. No entanto, para quem começa, é da mais elementar prudência evitar estas muletas - nomeadamente para trabalhar com mais intensidade a arte da escrita ).

Muito

Há várias formas mais criativas de explicitar por escrito que uma coisa é muito grande, muito pequena, muito forte, ou muito estúpida. O recurso incontrolado ao "muito" para explicar tudo isto torna o texto necessariamente mais pobre, além de extremamente repetitivo e maçador. Puxem pela cabeça, nunca escrevam "muito", arranjem outra forma de dizer o que queriam dizer sem usar essa malfadada muleta, e os vossos textos agradecem. Ficam logo melhores.

ETC. ...

O "etc" (que, como toda a gente sabe, vem do et coetra latino e quer dizer "e outras coisas mais"), é uma verdadeira praga infestante nos textos de quem não tem experiência de escrever em português. Antes de mais nada, podemos meter argoladas como escrever "estavam lá melancias, etc.", quando isso é completamente proibido pelas nossas regras de gramática, porque o "etc. " só pode usar-se depois de, pelo menos, dois exemplos ("estavam lá melancias, abóboras, etc"). Além disso, empobrece imensamente os textos, porque dispensa os autores de arranjarem formas criativas de apresentar inventários. Por isso, enquanto ainda estão só a aprender, escrevam "estavam lá melancias e abóboras, entre outros produtos campestres" ; ou "estavam lá produtos campestres, como melancias ou abóboras"; ou o que muito bem entenderem dentro desta linha. Mas, se nunca usarem o "etc", aprendem mais depressa a escrever bem em português e o vosso vocabulário e capacidade de expressão melhoram substancialmente (Continua...)
In.: "Complementos Indirectos"; Clara Pinto Correia

Tuesday, October 16, 2007

SINÓNIMOS


"Razão é quando o cuidado aproveita o facto de a emoção estar dormindo e assume o comando"

" Lucidez é um acesso de loucura ao contrário".

" Perdão é quando o Natal acontece em Maio, por exemplo"

"Amigos são anjos que nos levantam quando as nossas asas estão machucadas"

" Desculpa é uma palavra que pretende ser um beijo"

"Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado"

" Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa"

" Certeza é quando a ideia cansa de procurar e pára".

" Amizade é quando você faz questão de você e se empresta para os outros"

" Tristeza é uma mão que aperta seu coração"

"Lágrima é um sumo que se derrama quando o seu coração se espreme".

Friday, April 20, 2007

CRIANÇAS DE NOVO




Hoje sonhei ... que não havia no mundo pessoas com corações fechados, com sentimentos menos puros (aqueles que procuram o outro como forma de se autocompensarem...). Sonhei que era CRIANÇA... que sorria livre ... que voava nas asas do sonho ... e que era possível AMAR sem medo do amanhã... como se a dor não passasse de uma forma de gerar VIDA, de fazer nascer a ESPERANÇA. Hoje acreditei que quando alguém nos fere não o faz por maldade, mas porque sofre... que não há pessoas más... mas pessoas SÓS a quem podemos, pacientemente, com ternura ou com paixão fazer FELIZES. Sonhei... acordei e compreendi... que só saberei quem sou se o meu sonho não terminar... que não quero acordar por ser isso o ENVELHECIMENTO. Compreendi que ser madura não é sinónimo de ser "velha" e que deixar de "namorar com a vida" é uma forma de morrer. Então decidi: Sorrir ao espelho e aos quatro ventos... apaixonar-me por mim, pelos outros e pela vida... abraçar em pensamento os que me feriram (quem sabe não curarei assim as suas próprias feridas!)... DECIDI VIVER!!

Sunday, March 11, 2007

UM LUGAR AO SOL




"Andamos todos mais ou menos perdidos entre sombras" (J.S.)




Há muitos anos, a minha filha comentou que um prédio, junto ao qual passávamos, era assombrado... porque fazia sombra a um outro, que lhe era próximo. Talvez ela visse a disputa pela luz a partir da sombra que, muitas vezes, os adultos cá de casa lhe fariam e - imagino eu - terá descoberto que, afinal, o sol, quando nasce, não é para todos. E terá pensado, do alto dos seus cinco anos, que crescer seria conquistar um lugar... ao sol. É engraçado repararmos que os lugares onde predominam sombras - sejam assombrados ou, mais modestamente, sombrios - sejam a delícia dos fantasmas. Dos nossos, está bem de ver, que, dada a ausência da luz (com a qual parecem ter um conflito que se prolonga há gerações), deixam à solta os medos mais secretos que transbordam para as pessoas, inundam o espaço, e nos põem a fugir de tudo o que, teimosamente, insistíamos guardar na sombra. Já o assombro - ou o júbilo - talvez guarde a ideia de um reencontro feliz de nós com algumas partes do mundo interior com quem parecíamos estar mais ou menos desavindos. Um dia, pela vida fora, a Sofia perceberá que ficamos sombrios sempre que desistimos de conviver com as nossas sombras. E, se insistirmos em fugir delas, Luky Luke que se cuide, porque haverá mais uns heróis acidentais a disparar "a torto e a direito" em relação a tudo o que se mexa. Pergunto-me, desde há muito, quando nasce a consciência da sombra - como sombra - numa criança. Sabemos que ela surge, inicialmente, como uma realidade que se destaca do corpo, e que é estranha para uma criança pequenina. Daí a perplexidade das crianças quando reparam na sua sombra e a miram repetidamente. Talvez percebam como ela os acompanha, os imita, e como pára sempre que elas param. Apesar de lhes ser estranha. Quando é que uma criança tem consciência da sombra como uma projecção da imagem do corpo e não como um outro? Só depois de perceber como os pais fazem parte de si. Freud estaria certo: não só os pais guardam o sono como são os guardiões das sombras. E talvez seja à falta de quem os guarde ( e se torne o sol das suas vidas) que tantas pessoas lutam - com desespero e sem escrúpulos - por um lugar ao sol. Um dia, a Sofia compreenderá que o sol, quando nasce, será, para sempre, de quem o fez nascer (...)


Extraído de: " Tudo o que o amor não é"


Eduardo Sá

Friday, December 01, 2006

A CAIXA DE PANDORA



Às vezes acho que são as palavras que se viram contra mim, exactamente nos momentos cruciais, aqueles em que elas, as palavras, me poderiam valer. Talvez as use com excessiva facilidade e as gaste com toda a minha pretensa eloquência. Ou talvez elas não representem quase nada, nem sequer o significado que lhes damos. O que contam são os actos - esses sim, falam mais alto - e o que nunca se ousou dizer, o que se guarda no peito durante dias, semanas ou anos, como um tesouro precioso e clandestino que perde o encanto e o valor se for revelado ou descoberto. Mas é mais forte do que eu. Há anos que me sento em frente a um ecrã branco e preencho-o de caracteres pretos, criando a ilusão que desta forma encho os meus dias e dou uma ajuda a mais algumas pessoas, os meus leitores, que naquilo que lhes escrevo, encontram respostas e soluções para tristezas e enigmas que o meu conhecimento não alcança. O meu apego às palavras é tão grande que são elas o princípio, o meio e o fim da minha existência, a única forma que alcanço para me relacionar com os outros e com o mundo. E também comigo, quando falo sozinha com os meus botões e procuro respostas e explicações para tudo. E depois, depois há as palavras dos outros. As de todos os escritores cujos livros conversam comigo na minha casa, que vou descobrindo nas minhas viagens. Histórias perfeitas e parágrafos sublimes que vou coleccionando com o prazer e a culpa de quem se apropria de tesouros alheios. E quando as palavras que os outros escrevem dizem o que sinto, sinto-as como minhas e registo-as num caderno, no telemóvel, num guardanapo de papel, para mais tarde as oferecer a alguém. Aforismos, diálogos, monólogos, descrições de um personagem, de uma casa, de um lugar. Frases soltas, reflexões, princípios filosóficos, abreviaturas, nomes, alcunhas, diminutivos, expressões idiomáticas, provérbios e ditados populares, tudo serve para me entender melhor com a realidade. Mas talvez não seja assim. Talvez tenha escolhido o caminho oposto para alcançar o entendimento. Quanto mais penso, me organizo e me respondo, mais dúvidas tenho e menos satisfeita me sinto. A pouco e pouco, comecei a perceber que não há respostas para tudo. E as poucas que existem, ou são erradas ou são absurdas. E é então que baixo os braços, entrego as armas e desisto a favor do silêncio, que é tudo o que me resta. Mas o silêncio nunca traz respostas. Instala-se como um tirano que ocupa todas as casas e jardins do mundo, que manda prender e torturar todos os que falam, que se esconde atrás da indiferença, do desinteresse, do vazio, da distância, tentando convencer-me de que é melhor assim, como se as palavras vivessem todas na caixa de Pandora e fosse um crime para a humanidade abri-la e deixá-la respirar. Um dia destes faço um furo na caixa, daqueles invisíveis, tipo formiga branca, e começo a ver as palavras a sair numa coluna de fumo, uma a uma, quase sem se dar por isso. Pode ser que, então, finalmente, saiam as palavras certas, poucas, sempre poucas, as suficientes, porém, para te fazer voltar ao mundo em que éramos quase sempre felizes, com ou sem elas.



Extraído de: "Vou contar-te um segredo"


Margarida Rebelo Pinto

Sunday, November 05, 2006

A GRANDE LIÇÃO


" Havia uma certa escola apelidada de Escola dos Pesadelos. Trabalhar e estudar nela era um verdadeiro martírio. Os alunos andavam sempre agitados, não se respeitavam e agrediam-se frequentemente. No semestre anterior, um aluno deixara outro paraplégico ao disparar sobre ele. Muitos dos professores estavam ansiosos, deprimidos e amedrontados, devido ao clima que se vivia naquela escola. Os alunos sentiam-se alienados, ansiosos e irritados. Para muitos, o último sítio em que queriam estar era dentro da sala de aula. Raramente alguém tinha interesse em aprender. Estudar, assimilar o conhecimento e fazer testes era verdadeiramente insuportável. Os conflitos eram tão graves que se tornava necessário chamar a polícia diariamente. A escola deixou de ser um canteiro de paz e converteu-se num canteiro de medo. Nada parecia mudar o caos que se vivia naquela escola. Certa vez, um professor de Física, que deu notas baixas a três alunos, foi ameaçado de morte. Temendo pela sua vida, abandonou a escola. Foi o décimo professor a desistir de trabalhar na escola no último ano. Foi contratado um novo professor de Física. Chamava-se Romanov, tinha apenas 1,55 m de altura, era franzino, magro e aparentemente tímido. Ao vê-lo, alguns alunos, com um sorriso sarcástico, pensaram: «Coitado! Este não dura uma semana. Se o antigo professor, que tinha 1,90 m e era musculado, não suportou a ameaça, este será facilmente dominado». No primeiro dia em que Romanov deu aulas ocorreu um grave incidente. Um aluno agressivo e autoritário, apelidado de Gigante, colocou o cesto do lixo da sala de aula junto da porta, para o professor tropeçar. Romanov entrou eufórico, estava desejoso de se apresentar, e nem olhou para o chão. O pequeno professor nunca tinha sofrido uma queda tão aparatosa. Quase partiu uma perna. A classe não conteve o riso, embora alguns tivessem pena do professor. Romanov levantou-se serenamente, sacudiu o pó das calças e depois fitou a face de todos os alunos. Não proferiu uma única palavra, mergulhando num profundo silêncio. No início, ninguém se aquietou. Os minutos foram passando e a plateia começou a ficar incomodada. O silêncio do novo professor penetrou pouco a pouco na mente dos alunos e inquietou-os. Nunca tinham presenciado uma reacção como aquela. Esperavam que o professor se zangasse e lhes desse um sermão, mas foram inundados por um gritante e perturbador silêncio. Quinze minutos depois, ainda estavam todos calados. Acalmada a plateia, Romanov fez algo que os chocou, ao soltar uns gritos incompreensíveis que assustaram todos os alunos. Após o choque, ele começou a fazer movimentos com as mãos, como se fosse um especialista em artes marciais. Os olhos dos alunos não conseguiam acompanhar os seus movimentos. De repente, o professor deu uma cambalhota no ar. Os alunos, atónitos, não queriam acreditar no que estavam a ver; o espaço parecia tão exíguo para um movimento tão fantástico. Parecia um filme. Finalmente entenderam que estavam diante de um grande mestre do karaté, um magnífico cinturão negro. Romanov já ganhara inúmeras medalhas em diversas competições. Treinara pessoas a lutar e a dominar-se, era valente, corajoso e admirado. Mas deixou tudo para se tornar professor. E, como professor, queria treinar os seus alunos a pensarem sobre dois mundos, o mundo em que estão ( o físico) e o mundo a que pertencem ( o psíquico). Após deixar a plateia embasbacada com as suas habilidades, bradou com uma voz poderosa: «- Quem colocou o cesto do lixo junto da porta para que eu tropeçasse?» O Gigante encolheu-se. Os seus lábios começaram a tremer. A sua insegurança denunciou-o. Aproximando-se dele, o professor olhou-o firmemente nos olhos e disse-lhe: «- O poder de um ser humano não reside na sua musculatura, mas na sua inteligência. Os fracos usam a força, os fortes usam a sabedoria. Que tipo de força é que tens usado?» O Gigante não respondeu. O professor perguntou-lhe qual era o seu nome. O jovem respondeu rapidamente. Perguntou-lhe ainda se tinha apelido. Ao saber o seu apelido, o professor meneou a cabeça e fez uma pergunta a toda a turma: «-Quem agride os outros é fraco ou forte?» Romanov ensinava através da arte da pergunta. A arte da pergunta abria as janelas da mente dos alunos e fazia-os reflectir sobre um mesmo problema a partir de vários ângulos, desenvolvendo áreas nobres da inteligência. Queria que eles pensassem de uma maneira ampla e aberta. Contrariamente àquilo em que sempre acreditaram, a turma respondeu: «- Quem agride é fraco!». Respondeu Romanov:«- Então aqueles que promovem guerras e actos de violência são fracos. Quem usa a agressividade e não a sua inteligência é frágil.» Em seguida, voltou-se para a turma e acrescentou: «-Todavia, para mim o Gigante não é fraco, é antes um grande ser humano. Tenho a certeza de que ele tem um excelente potencial intelectual. Ele precisa apenas de descobrir esse potencial.» A plateia ficou paralisada perante as suas palavras. Atónitos, eles perguntavam-se: «Como é que ele conseguiu elogiar um aluno do qual todos os professores procuram manter a distância?» E, dirigindo-se ao Gigante, abriu-lhe a mente. Disse-lhe: «- Tu magoaste-me, mas na minha opinião não constituis um problema nem és um inimigo. Quero que saibas que não és mais um número nesta turma, mas sim um ser humano especial. Se me permitires, gostaria de te conhecer melhor e de ter a oportunidade de ser teu amigo». Em seguida, estendeu-lhe a mão. O pequeno professor tornou-se grande na personalidade do aluno violento, que não amava nem respeitava ninguém. A imagem de Romanov foi arquivada nos solos do inconsciente do Gigante de modo privilegiado. A partir daí, o Gigante, que detestava Física, passou a gostar desta disciplina. Quem ama o seu mestre, ama a matéria que ele ensina. Quem não ama o seu professor, dificilmente amará as suas ideias. Romanov acreditava neste tese. Vários alunos também se comoveram com o episódio. Romanov não tinha apenas um conhecimento lógico sobre a Física, ele conhecia o território das emoções, por isso era um professor fascinante, até porque sabia resover conflitos na sala de aula. Ele rompeu o ciclo da agressividade, ao surpreender e tratar com gentileza os seus agresores. A Escola dos Pesadelos começou a receber os raios solares dos sonhos, o sonho da sabedoria, da generosidade e da fé na vida. A dor transformou-se num golpe de amor no pequeno e infinito mundo de uma sala de aula. Para Romanov, a sala de aula é um pequeno mundo, porque o espaço físico, embora seja pequeno, é infinito, pois contém seres humanos complexos e indecifráveis, isto é, verdadeiros universos a explorar. As atitudes incomuns de Romanov espalharam-se por toda a escola. No episódio do Gigante, ninguém acreditava que ele se calara e ficara emocionado na sala de aula. Ele, que já comparecera na esquadra da polícia e era líder de um grupo que envolvia dezenas de alunos de outras turmas e de outras escolas. No início, os demias professores começaram a estranhar o comportamento de Romanov. Uns achavam que ele delirava, outros pensavam que ele queria ser a estrela da escola e outros ainda que era um herói que estava a assinar a sua sentença de «morte». Esvaziaram-lhe cinco vezes os pneus e riscaram-lhe três vezes o carro. Recebia todas as semanas telefonemas anónimos de alunos a ameaçarem-no. Quase diariamente escreviam frases agressivas ou gozavam com ele fazendo desenhos nos muros da escola. Alguns alunos que não o conheciam, detestavam-no gratuitamente. No território da agressividade não se aceitava a sensibilidade. O tempo passava e apesar de todos os acidentes que aconteciam, Romanov perseverava e continuava a incendiar a escola com a sua mente aguçada. Perturbados, os professores e os alunos perguntavam-se: « De onde vem este professor com um sotaque tão carregado?» Como é que ele consegue reagir com inteligência em situações em que só é possível entrar em desespero? Porque é que quanto mais ameaçado é, mais provoca o raciocínio dos alunos? Porque é que fala de sonhos? Isso não é uma coisa que já está ultrapassada? Por que razão insiste em fazer uma ponte entre a disciplina que lecciona e a vida real? (...)

Extraído de: "Filhos Brilhantes, Alunos Fascinantes"
Augusto Cury